One Health: uma abordagem 360 para enfrentar grandes emergências de saúde

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28 Ago 2024

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o conceito One Health como “uma abordagem abrangente e unificadora que visa equilibrar e otimizar a saúde das pessoas, dos animais e dos ecossistemas”. Assim, esta noção nasce sob o pretexto de que, se uma destas áreas for alterada, tem impacto nas restantes.

Para esclarecer, tomemos um exemplo simples: como resultado das alterações climáticas e do desaparecimento de áreas florestais, espécies como as carraças são forçadas a deslocar-se para áreas urbanas. Aí, podem infectar animais como os nossos animais de estimação, que, através da transmissão por carraças, podem causar doenças nos seres humanos, como a doença de Lyme, uma infecção bacteriana que afecta mais de 70.000 pessoas na Europa todos os anos.

A recente pandemia de COVID-19 sublinhou a necessidade de controlar esta inter-relação entre estas três áreas. Segundo a OMS, estima-se que 75% das doenças infeciosas em humanos têm origem animal e que 60% destas são zoonóticas, ou seja, são transmitidas de animais para humanos. Muitas vezes, não pensamos na origem das doenças, que podem vir dos animais, da alimentação, da degradação dos ecossistemas ou da qualidade do ar.

Para melhorar esta situação e, sobretudo, atuar sob a premissa da prevenção, por parte das organizações de saúde e do setor da saúde, é fundamental enfrentar uma série de desafios. Falamos de aspetos fundamentais para enfrentar futuras pandemias da forma mais rápida e eficaz possível, tanto a nível nacional como internacional, bem como para prevenir possíveis emergências sanitárias.

 

Os três grandes desafios da abordagem One Health

 

1. Resistência antimicrobiana

Um dos grandes desafios de saúde atuais é a resistência dos micróbios, vírus e fungos aos medicamentos, categorizada pela OMS como uma das dez principais ameaças à saúde pública. E, neste aspeto, a poluição ambiental desempenha um papel crucial. O despejo de medicamentos, plásticos e outras substâncias tóxicas nos rios, oceanos e mares favorece o aparecimento de microrganismos resistentes aos antibióticos, dificultando cada vez mais o combate a estas bactérias. Assim, é fundamental estabelecer estratégias que garantam o cuidado com o ambiente e que, em última instância, se foquem na prevenção de danos no nosso ecossistema, evitando assim o desenvolvimento de resistência antimicrobiana.

 

2. A implementação de novas tecnologias

O aparecimento de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial (IA), oferece um mundo de possibilidades para melhorar as estratégias e os processos na abordagem One Health. A IA tornou-se uma ferramenta fundamental para a indústria que nos permite analisar grandes quantidades de dados, tanto ambientais como relacionados com a saúde humana e animal, permitindo-nos cruzar estas análises e encontrar padrões e inter-relações entre todos estes dados.

Isto permite-nos obter conhecimentos valiosos que são posteriormente utilizados para desenvolver modelos que melhorem a saúde de uma forma holística, aplicando novas tecnologias a aspectos como, por exemplo, o tratamento de águas residuais no sector agro-alimentar, a redução das emissões de amoníaco nas explorações agrícolas ou de chorume. No entanto, a implementação destas novas tecnologias nas administrações implica custos elevados, o que representa uma barreira significativa.

 

3. Cooperação público-privada

A cooperação entre os agentes do sistema de saúde é essencial para garantir a abordagem One Health. Neste momento, é necessária a coordenação entre administrações, empresas, centros de investigação e sociedade para implementar políticas integradas que apoiem uma abordagem holística da saúde, além de promover investigação que produza avanços científicos que proporcione novas soluções para enfrentar as grandes ameaças à saúde global.

Assim, a criação da futura Agência de Saúde Pública do Estado (AESAP) do Ministério da Saúde permitirá avançar no controlo, identificação e avaliação do estado de saúde da população, bem como reconhecer os problemas, ameaças ou riscos nesta área. especial atenção às desigualdades em saúde. A abordagem “Uma Só Saúde” será fundamental para a AESAP, integrando a saúde humana, animal e ambiental para abordar de forma mais eficaz questões de saúde complexas, promovendo a cooperação entre diferentes sectores e disciplinas.

 

A comunicação é uma obrigação para uma abordagem de 360 ​​graus para a One Health

Para enfrentar estes 3 grandes desafios e avançar numa abordagem abrangente e holística da saúde, a comunicação estabelece-se como uma ferramenta poderosa que, implementada de forma eficaz, pode ajudar a compreender a importância da inter-relação entre a saúde humana, animal e ambiental.

Neste sentido, a divulgação e transferência de conhecimento entre todos os intervenientes pode ajudar a aproximar os profissionais de saúde, os cientistas, os legisladores e o público em geral da importância da inter-relação entre a saúde humana, animal e ambiental. Por isso, devem ser implementadas campanhas de sensibilização e educação para informar sobre a forma como a saúde dos ecossistemas, dos animais e dos seres humanos está intrinsecamente ligada.