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O Governo português apresentou hoje a sua proposta para o Orçamento do Estado para 2026, um dia antes do prazo e três dias antes das eleições autárquicas. Embora o Governo seja praticamente o mesmo do ano passado (apesar de ter havido eleições antecipadas em maio passado), o contexto político atual é completamente diferente. Há um ano, não havia garantias de que o Orçamento fosse aprovado, enquanto hoje há muitos candidatos para ajudar a aprová-lo, mesmo que o Governo ainda não tenha maioria.
A estratégia do primeiro-ministro e da sua equipa foi apresentar um documento minimalista, facilitando a satisfação de potenciais parceiros parlamentares.
Embora este ano haja menos riscos de o Orçamento do Estado ser bloqueado no Parlamento, o Governo optou também por seguir a mesma estratégia de congelar a maioria dos aumentos de impostos e reduzir novamente o Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, impulsionando assim o consumo interno. A estratégia revelou-se correta no ano passado e, em 2025, o Banco de Portugal prevê um maior crescimento do PIB graças a isso mesmo.
Este ano, porém, o Orçamento do Estado não legisla sobre a maioria dessas medidas setoriais. Elas foram discutidas e aprovadas individualmente no Parlamento nas últimas semanas, e o Orçamento do Estado, embora reflita seu impacto orçamentário, não as legisla diretamente, como era norma nas últimas décadas. Dessa forma, o Orçamento é este ano um documento mais financeiro e tem menos “cavaleiros orçamentários”, como essas medidas eram chamadas.
Isso é algo que o Ministro das Finanças vem defendendo nos últimos anos. “Nosso objetivo é que a redação da lei trate exclusivamente de questões orçamentárias. As tabelas anexas refletem decisões políticas, mas cada política pública — quando é de competência do Parlamento — é discutida separadamente”, disse ele na coletiva de imprensa após a apresentação do Orçamento.
Mas isso também é muito útil para garantir a aprovação política no Parlamento. O Partido Socialista tem afirmado que algumas áreas “línea vermelha” não poderiam ser incluídas no Orçamento para que votassem a favor do mesmo. Uma das linhas vermelhas são as alterações à legislação laboral que o Governo apresentou e que estão atualmente em discussão. A outra tem a ver com os cuidados de saúde e com o serviço nacional de saúde público. Desta forma, o Orçamento 2026, mais reduzido, não ultrapassa quaisquer limites e torna mais fácil aos socialistas aprová-lo.
O Chega, o maior partido da oposição, ainda não esclareceu a sua posição relativamente à votação do Orçamento. Com o apoio aparente do Partido Socialista, o seu voto deixará de ser determinante para a aprovação do Orçamento.
Montenegro e a sua equipa prometem mais uma vez responsabilidade fiscal, com um excedente orçamental previsto de 0,3% este ano e outro, embora menor, em 2026 (0,1%). O ministro das Finanças afirmou que a margem para aprovar novas medidas durante a discussão no Parlamento é estreita, com um teto de apenas 230 milhões de euros, que é o superávit esperado para o próximo ano. “Se o país não quiser ter um déficit no próximo ano, a margem é quase nula”, alertou. O PIB deverá crescer 2% este ano e 2,3% em 2026. O Conselho das Finanças Públicas alerta que as previsões do Governo são “otimistas”.
O objetivo é também reduzir a dívida pública, de uma previsão de 90,2% do PIB no final deste ano para 87,8% em 2026, e proteger Portugal de choques externos.
A discussão do Orçamento ocorre no final do mês, com a votação geral marcada para 27 de outubro.
PARTIDOS DE DIREITA APLAUDEM ORÇAMENTO “RESPONSÁVEL”, ESQUERDA PEDE MAIS MEDIDAS E AMBIÇÃO POLÍTICA
Hugo Carneiro, deputado do maior partido que apoia o Governo, o Partido Social Democrata (PSD), aplaudiu a estratégia e afirmou que a margem de negociação é “muito limitada”, apelando aos partidos para que demonstrem “sentido de responsabilidade” evitando alterações que distorçam o excedente orçamental ou comprometam a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O partido minoritário da coligação, os Democratas Cristãos, também observou que o Orçamento do Estado para 2026 inclui o terceiro excedente consecutivo pela primeira vez na democracia portuguesa. O líder parlamentar Paulo Núncio reforçou publicamente a posição fiscal do Governo, apelando à “responsabilidade política” da oposição durante as negociações do Orçamento do Estado para 2026.
Após a apresentação da proposta do Orçamento do Estado para 2026, o presidente do Chega (CH), André Ventura, afirmou que o partido não tolerará um aumento dos impostos sobre os combustíveis. Ventura considera que “o Governo prevê um consumo extraordinário de combustível no próximo ano”, apesar das garantias do Ministro das Finanças de que o Governo está a estudar uma solução para evitar aumentos de preços.
O Partido Socialista (PS), liderado por José Luís Carneiro, sinalizou disponibilidade para permitir a aprovação do orçamento, confirmando que o Governo atendeu às principais exigências do PS (incluindo as relacionadas com o trabalho, o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social pública). Embora tenha enfatizado que a proposta não é o documento ideal do PS, Carneiro comprometeu-se a honrar a promessa do partido de “contribuir para a estabilidade política”.
A líder da Iniciativa Liberal (IL), Mariana Leitão, criticou a proposta do Governo para o Orçamento do Estado para 2026. Para a líder liberal, o documento “não é ambicioso” para o povo português, sendo “um orçamento ganancioso para o Estado”.
As críticas são generalizadas entre os restantes partidos de esquerda. O Livre (L) denuncia a “falta de ambição política”, argumentando que a proposta do Governo apresentada hoje “não contém medidas”. Entretanto, o Partido Comunista Português (PCP) assume uma posição ainda mais crítica, acusando o Governo de “exacerbar as injustiças fiscais” devido à redução do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas. Assim, os comunistas são inflexíveis em expressar a sua “total oposição” à proposta do Governo. O PAN adotou uma posição mais amigável, limitando-se a acusar o Governo de não negociar esta primeira versão do Orçamento do Estado e prometendo que irá “apresentar propostas para o reforçar”.
Estes são os próximos passos do Orçamento do Estado para 2026 no Parlamento:

A seguir, destacamos as medidas mais importantes incluídas e consideradas na proposta do Orçamento do Estado para 2026.
MEDIDAS E INCENTIVOS PARA AS EMPRESAS
Imposto sobre as sociedades reduzido novamente para 19%
O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) será reduzido em 1 ponto percentual para 19% no próximo ano, conforme descrito no programa eleitoral apresentado pela AD durante as eleições de maio. Esta medida, que representa um impacto de 199 milhões de euros nas finanças públicas, já tinha sido aprovada em termos gerais no Parlamento em setembro, com o apoio da CH e a oposição do PS.
Além disso, o Governo pretende introduzir uma redução da taxa de imposto aplicável às Pequenas e Médias Empresas (PME) e às empresas de pequena e média capitalização, baixando a taxa sobre os primeiros 50.000 euros de rendimento tributável para 15% (também uma redução de 1 p.p.).
Programa principal de promoção da I&D deixa de aceitar fundos de investimento
O Governo planeia eliminar gradualmente o programa SIFIDE para fundos de investimento, a fim de gerar poupanças de aproximadamente 124 milhões de euros em 2026, podendo atingir 179 milhões de euros em 2030. Apesar do fim do benefício, o período para deduzir os créditos fiscais já acumulados será alargado de três para cinco anos.
Esta decisão segue a recomendação da Unidade Técnica de Avaliação das Políticas Fiscais e Aduaneiras (U-TAX), que destacou que uma parte significativa dos investimentos realizados através do SIFIDE permaneceu retida nos fundos e nas empresas-alvo, sem ser efetivamente aplicada em atividades de I&D.
Os bônus de produtividade continuam isentos de impostos
A isenção fiscal ao IRS e à Segurança Social para bônus de produtividade, recompensas baseadas no desempenho, participação nos lucros e bônus de fim de ano permanecerá em vigor em 2026, desde que estes não excedam 6% do rendimento base anual do trabalhador. Esta medida, introduzida no ano passado pelo primeiro Governo liderado por Luís Montenegro, continuará a ser aplicada ao longo do próximo ano.
Apoio à inovação tecnológica e empresarial
O Orçamento do Estado para 2026 prevê a transferência de um total de 6,6 milhões de euros para a Agência Nacional de Inovação, além de 1 milhão de euros do Turismo de Portugal para a NEST. Estes fundos destinam-se a promover a inovação tecnológica e a digitalização das empresas, com impacto na modernização do setor financeiro.
MEDIDAS E INCENTIVOS PARA AS FAMÍLIAS
Imposto de renda pessoal será reduzido novamente para as faixas mais baixas
O Imposto de Renda Pessoal (IRS) será reduzido em 0,3% nas alíquotas marginais da 2ª à 5ª faixa, conforme previamente acordado no Orçamento do Estado deste ano. Esta é a quarta vez que um governo liderado por Luís Montenegro implementa uma redução na carga tributária.
Além disso, as faixas do IRS serão atualizadas em 3,51%, o que beneficiará a primeira faixa, aumentando o limite técnico para salários isentos de tributação para acompanhar o aumento do salário mínimo. Apesar da redução do IRS, o Governo espera arrecadar 937 milhões de euros adicionais em receitas do IRS, devido à evolução favorável prevista no mercado de trabalho.
O salário mínimo aumenta para 920 euros
Conforme anunciado anteriormente, o salário mínimo nacional aumentará 50 euros, atingindo 920 euros por mês. Este aumento já estava estipulado no acordo assinado entre o Governo, as confederações patronais e os sindicatos, e visa atingir gradualmente 1.100 euros por mês até 2029. Apesar dos avisos do Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que alertou que os valores intermédios estabelecidos no acordo poderiam estar sujeitos a alterações, o Governo manteve o plano original, beneficiando principalmente os trabalhadores portugueses na primeira faixa do IRS, que continuam isentos do pagamento do imposto sobre o rendimento.
Funcionários públicos receberão um aumento mínimo de € 56,58
O Governo confirmou que os funcionários do setor público receberão um aumento mínimo de € 56,58 (+2,15%) em seu salário mensal em 2026. Além disso, o salário mínimo do setor público aumentará para € 934,99, excedendo o salário mínimo nacional definido para 2026 (€ 920). De acordo com a proposta do Governo, esta medida terá um impacto de mais de 500 milhões de euros nas finanças públicas, beneficiando mais de 760 000 trabalhadores. Embora este aumento já estivesse incluído no acordo assinado no ano passado com os parceiros sociais, os sindicatos tinham antecipado aumentos mais elevados e já convocaram uma greve nacional da administração pública para 24 de outubro.
Aposentados terão aumentos em 2026, mas aumentos extras não são garantidos
A proposta do governo para o Orçamento do Estado concentra-se parcialmente na população idosa, um segmento do eleitorado que tradicionalmente tem estado mais distante do PSD. O governo implementará os aumentos exigidos por lei, aumentando as pensões mais baixas (até 1.045 euros) em 2,7% (o único grupo a obter um aumento acima da taxa de inflação). A segunda faixa de pensões (até 3.135 euros) terá um aumento de 2,11%, enquanto a terceira faixa (até 6.270 euros) aumentará 1,86% no próximo ano. Esses aumentos não incluem os aumentos extraordinários propostos pelo PS e pelo CH, que o ministro das Finanças considerou que poderiam levar a um déficit orçamentário.
O Suplemento de Solidariedade para Idosos também aumentará para € 670, um aumento de € 40 em relação ao valor atual, beneficiando aproximadamente 230.000 aposentados. Essa medida, por si só, terá um impacto fiscal de € 700 milhões.
Os impostos sobre o álcool e o tabaco permanecem inalterados em 2026
O Governo prevê arrecadar mais 80 milhões de euros do que em 2025 com o imposto sobre o tabaco e o imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas, mesmo que os impostos permaneçam inalterados. Prevê-se que as receitas do imposto sobre o tabaco aumentem 71 milhões de euros (+4,4%, totalizando 1,6 mil milhões de euros) e as receitas do imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas (IABA) 8 milhões de euros (+2,5%, totalizando 317 milhões de euros), seguindo a tendência observada em 2025. As bolsas de nicotina serão incluídas na lista de produtos de tabaco e nicotina que pagarão imposto especial de consumo a partir de 2026. A taxa de imposto é de € 0,065/g.
MEDIDAS PARA O AMBIENTE E A ENERGIA
Mais dinheiro e aceleração do licenciamento para energias renováveis
Tal como defendido em anos anteriores, o Governo reforça o seu compromisso com a transição energética, atribuindo cerca de 2,5 mil milhões de euros, um aumento de 4,9% em relação a 2025. O Governo reafirma também a sua intenção de lançar uma plataforma única de licenciamento para projetos renováveis, garantindo simultaneamente a aprovação do Programa Setorial para Áreas de Aceleração das Energias Renováveis, que visa simplificar e agilizar os procedimentos de licenciamento de projetos renováveis. Além disso, a proposta prevê uma reforma das instituições públicas responsáveis pelo licenciamento, a fim de garantir uma maior coordenação e digitalização dos processos. O Governo irá também abolir a Contribuição Extraordinária sobre o Setor Energético (CESE) para as empresas de gás natural, uma vez que foi considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, mas irá manter este imposto para outras empresas do setor energético.
Investimentos para garantir um sistema energético mais resiliente e independente
Após o apagão de abril, o Governo está também a dar prioridade à robustez do sistema energético, aumentando o investimento na modernização das redes, expandindo o número de centrais solares com capacidade de arranque autónomo e promovendo o armazenamento de energia e as interligações nos quadros ibérico e europeu. Ao mesmo tempo, o Governo planeia impulsionar a produção de energia renovável, promover a eletrificação do consumo e estimular o mercado do gás renovável.
Agrivoltaica e energia oceânica na vanguarda da indústria verde
Em linha com o Pacto pela Indústria Limpa apresentado pela Comissão Europeia, o Governo anunciou o desenvolvimento de uma Estratégia Industrial Verde que visa criar sinergias mais fortes entre os setores econômicos através da promoção de projetos agrivoltaicos e da produção de energia oceânica.
Nenhuma aumento de impostos sobre produtos petrolíferos por enquanto
Apesar da pressão da Comissão Europeia, não se espera que o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) sofra quaisquer alterações. No entanto, foi prometida uma redução gradual da tributação para um período em que os preços do petróleo bruto estiverem mais baixos, a fim de evitar impactos significativos sobre os consumidores.
No campo da mobilidade, o Governo também pretende expandir a rede de carregamento de veículos elétricos no próximo ano e promover ainda mais a eletrificação. Além disso, o Executivo avançará com a descarbonização da frota de transportes públicos, com planos para adquirir veículos de transporte público elétricos e híbridos, tais como autocarros e navios.
Mais investimentos em gestão sustentável da água até 2030
Reconhecendo os recursos hídricos como uma prioridade, a proposta de Orçamento do Estado visa aumentar a eficiência hídrica por meio do plano “Água que Une”, que inclui medidas como investimentos para garantir a segurança do abastecimento, modernização do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos e melhoria ambiental das áreas ribeirinhas. Essa estratégia também abrange a aprovação do novo Plano de Ação para a Economia Circular, que será implementado até 2030, bem como o fortalecimento do Plano de Ação TERRA, com o objetivo de expandir a capacidade de tratamento de resíduos e lidar com o risco crescente de a capacidade dos aterros atingir seu limite.
MEDIDAS PARA A HABITAÇÃO
A garantia pública e as isenções fiscais permanecem em vigor
Para facilitar o acesso à primeira habitação, o regime IMT Jovem, que isenta os impostos associados à compra de um imóvel para pessoas até aos 35 anos, será mantido. Com a atualização dos escalões do imposto IMT, os imóveis que beneficiam desta isenção podem agora valer até 330 mil euros. A Garantia Pública para Habitação Jovem, que facilita o acesso ao crédito através de uma garantia estatal que também cobre o adiantamento da hipoteca, também se mantém em 2026. Tem um total de 1 mil milhões de euros.
Oferta de habitação pública com um aumento de até 930 milhões de euros
O Governo identifica a escassez de habitação disponível como o principal fator da atual crise imobiliária e pretende travar o aumento dos preços através do aumento do número de habitações no mercado. No lado público, 930 milhões de euros já foram reservados para 2026 no âmbito de programas centrados na promoção e reabilitação de habitação, que deverão beneficiar cerca de 22 000 pessoas. Entretanto, o Governo também se compromete a mobilizar ativos públicos, desde terrenos a edifícios, para novos projetos habitacionais.
Mercado imobiliário estudantil deve receber investimentos
O governo está pronto para reformular o sistema de apoio social ao ensino superior até 2026/2027, com foco na transparência e na ampliação do acesso à moradia acadêmica além dos critérios tradicionais, para incluir estudantes economicamente vulneráveis. Esta iniciativa será apoiada por investimentos contínuos em residências estudantis através da utilização de fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a par de esforços para regulamentar o mercado informal de arrendamento estudantil e planear a capacidade de alojamento a longo prazo, no âmbito do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior.
Regulação do mercado de aluguel define € 2.300 como moderado
Para reforçar a estabilidade e a segurança no mercado de aluguel, o governo planeja introduzir uma nova legislação e promover a expansão de opções de aluguel acessíveis. Isso incluirá um aumento no número de contratos sob o esquema de aluguel acessível, ajudando a garantir condições mais previsíveis e justas para inquilinos e proprietários. Essa intenção gerou controvérsia, já que um “aluguel moderado” é definido como até € 2.300.
MEDIDAS PARA O ECOSSISTEMA DIGITAL
A cibersegurança é reforçada com a transposição da NIS2
Com a cibersegurança como prioridade, o Governo planeja fortalecer o quadro jurídico e as políticas públicas até o final de 2025, através da transposição da Diretiva NIS2 e da revisão do regime jurídico para a segurança do ciberespaço. Três instrumentos fundamentais serão criados nesta ocasião: a nova Estratégia Nacional de Segurança do Ciberespaço, o Plano Nacional de Resposta a Crises e Incidentes de Cibersegurança e o Quadro Nacional de Referência para a Cibersegurança.
Governo nomeia um CIO como parte da Reforma do Estado
Um Programa de Simplificação, parte da reforma do Estado, tem como objetivo combater a burocracia por meio de dois objetivos estratégicos: aumentar a eficiência administrativa e reduzir os custos para cidadãos e empresas. Medidas dignas de nota incluem a criação do Diretor de Informação do Estado e da Agência Digital, que coordenará uma estratégia digital unificada; a interoperabilidade total dos sistemas públicos; e a criação de uma plataforma de interface digital única.
Novas tecnologias digitais para a Administração Pública
O Governo pretende reforçar o desenvolvimento profissional e a requalificação dos funcionários públicos, em linha com a reorganização dos ministérios e a adoção de novas ferramentas digitais. O objetivo é aumentar a agilidade, a inovação e a eficiência dos serviços públicos, promovendo o acesso a oportunidades de formação atualizadas, gratuitas e online para todos os funcionários e gestores. A modernização da infraestrutura e dos sistemas tecnológicos é essencial para a transformação digital do Estado e para garantir o princípio da “única vez”, evitando que cidadãos e empresas tenham que enviar dados repetidamente. A adoção de plataformas urbanas e gêmeos digitais permitirá uma gestão territorial mais inteligente e sustentável. Essa modernização se baseia em uma política nacional de dados que promove o compartilhamento e a tomada de decisões baseadas em evidências.
Reforçar as qualidades do serviço público
O Governo pretende que a digitalização se traduza numa melhoria real da experiência dos cidadãos e das empresas, melhorando a qualidade e a acessibilidade dos serviços públicos, tanto digitais como presenciais. Pretende prestar serviços integrados através do portal e da aplicação Gov.pt, alargando a sua cobertura territorial. O compromisso inclui também a expansão da identidade eletrónica e das chaves móveis digitais, promovendo um Estado mais acessível, eficiente e centrado nas pessoas.
A inteligência artificial como motor da modernização e transformação
O Governo irá atribuir 20 milhões de euros para promover a adoção da inteligência artificial na Administração Pública como motor da inovação, eficiência e modernização dos serviços públicos. Este investimento irá apoiar o desenvolvimento do modelo multimodal da língua portuguesa, a integração do assistente virtual Gov.pt na aplicação móvel e a implementação de soluções de IA em áreas como os contratos públicos, a faturação e a gestão dos fundos da UE.
Promover as competências digitais como pilar da estratégia de digitalização
O Governo pretende investir até 2 milhões de euros para promover o desenvolvimento de competências digitais entre os cidadãos e os trabalhadores, contribuindo para tornar a digitalização mais inclusiva e equitativa. O objetivo é capacitar a população para tirar partido das oportunidades tecnológicas, reduzir as desigualdades e reforçar a empregabilidade, aumentando a percentagem de cidadãos com competências digitais básicas e garantindo o acesso universal aos serviços digitais.
MEDIDAS PARA O SETOR FINANCEIRO
Os bancos ainda têm de pagar uma contribuição, mas deixarão de financiar a Segurança Social
A contribuição extraordinária para o setor bancário permanecerá em vigor em 2026 e ascenderá a 210 milhões de euros (o mesmo valor de 2025). A contribuição específica aplicada às instituições financeiras mantém-se, mas, por outro lado, a contribuição adicional que os bancos tinham de pagar para financiar a Segurança Social, que ascendeu a 40 milhões de euros em 2025, será extinta em 2026, após o Tribunal Constitucional ter declarado a sua inconstitucionalidade.
Limites máximos para a concessão de garantias
O Governo está autorizado a conceder garantias do Estado até um limite máximo anual líquido de 4,5 mil milhões de euros. Além disso, o Governo está autorizado a conceder garantias até 2,6 mil milhões de euros, cobrindo crédito à exportação, crédito financeiro e investimento português no estrangeiro. Esta medida visa apoiar a internacionalização das empresas e reduzir os riscos através do reforço do Banco de Fomento (o Banco Português de Fomento).
Concessão de empréstimos e outras operações ativas
São autorizadas operações ativas até 6 mil milhões de euros para apoiar a economia, financiar investimentos estratégicos e reforçar a liquidez das empresas. Estas operações podem ser geridas pelo Banco Português de Fomento, com foco na sustentabilidade financeira e na competitividade empresarial.
Seguro de crédito garantido pelo Estado transferido para o Banco de Fomento
A gestão do Seguro de Crédito Garantido pelo Estado será transferida para o Banco Português de Fomento a partir de janeiro de 2026. Esta centralização visa otimizar a gestão das garantias públicas e garantir uma maior eficiência na cobertura dos riscos associados às exportações e ao financiamento das empresas.
Fundo de contragarantia mútua
O Estado autoriza garantias até 1 mil milhões de euros a favor do Fundo de Contragarantia Mútua, reforçando o sistema de garantia mútua. Esta medida reforça o apoio ao financiamento das PME e das startups, promovendo a competitividade, o investimento e a capacidade de resposta do setor empresarial nacional.
MEDIDAS PARA O TURISMO E A AVIAÇÃO
Promoção de Portugal como destino turístico
O Governo pretende consolidar a posição de Portugal como um dos principais destinos turísticos mundiais, apoiando a expansão internacional das empresas turísticas nacionais. Estes esforços centram-se no reforço da acessibilidade e conectividade, garantindo que Portugal continua a ser um destino atraente e facilmente acessível para os visitantes. Estão previstos 442 milhões de euros para este fim.
Maior desenvolvimento do turismo regional
A nível regional, o Governo está empenhado em promover soluções de mobilidade mais sustentáveis entre as principais áreas turísticas, tornando as viagens mais fáceis e ecológicas. Isto inclui o desenvolvimento de ligações ferroviárias ecológicas, bem como planos para melhorar a eficiência dos serviços de transporte turístico, tais como transferências do aeroporto para o hotel. Em breve será lançada uma nova Agenda de Inovação Turística, que definirá áreas prioritárias para a inovação e delineará programas de apoio a projetos pioneiros e startups em I&D.
Conectividade aérea a ser expandida em 2026
Reconhecendo que a conectividade é crucial para o crescimento em mercados distantes, será lançado em 2026 um programa específico para a expansão da conectividade aérea, em coordenação com parceiros nacionais e regionais. Este programa incentivará a abertura de novas rotas aéreas diretas economicamente sustentáveis, reforçando a ligação do país ao portfólio de mercados emissores em várias regiões, através de acordos de promoção conjunta com companhias aéreas com o objetivo de divulgar o “Destino Portugal”.
Governo não se compromete com qualquer avaliação da TAP no âmbito da sua venda
O Governo optou por não incluir qualquer estimativa dos rendimentos do processo de privatização, mas salientou, na introdução do documento, que o processo de reestruturação do universo da TAP foi consolidado e que o processo de reprivatização da TAP teve início. Quando questionado sobre o facto de não ter sido incluído no documento qualquer valor relacionado com a privatização da TAP, o Ministro de Estado e das Finanças respondeu o seguinte: “Obviamente, com as negociações em curso, qualquer valor influenciaria essas negociações. A venda não terá impacto no equilíbrio orçamental.”
Os aeroportos de Lisboa e do Porto receberão investimentos
O Governo está a seguir uma estratégia de investimento dupla: a continuação do desenvolvimento do novo Aeroporto de Lisboa – Luís de Camões, que é crucial para aliviar a saturação do Aeroporto de Lisboa e estabelecer um dos maiores hubs da Europa. Paralelamente, a capacidade e a eficiência dos aeroportos de Lisboa e do Porto estão a ser reforçadas com investimentos em terminais e infraestruturas, com o objetivo de consolidar o Porto como a escolha de referência na região noroeste ibérica. Estas obras visam fundamentalmente melhorar a conectividade internacional e impulsionar o turismo e os negócios, em linha com os objetivos de crescimento sustentável do país.
Roteiro para a descarbonização
No âmbito do Roteiro para a Descarbonização da Aviação, serão lançados novos incentivos para a produção de Combustíveis de Aviação Sustentáveis (SAF), contribuindo para a estruturação de uma cadeia de valor a nível nacional. Já existe um incentivo de até 40 milhões de euros a este respeito.
MEDIDAS PARA A DEFESA
Lei de Programação Militar a ser revista em 2026
O Governo procura reverter um declínio de oito anos na retenção de pessoal, reforçando o recrutamento, melhorando os subsídios e garantindo salários competitivos. A eficácia operacional dependerá da manutenção preventiva e corretiva dos ativos militares, enquanto a revisão da Lei de Programação Militar em 2026 alinhará o planejamento da defesa com os objetivos estratégicos e orçamentários.
As despesas com a defesa atingirão 2% em 2025 e mais em 2026
A percentagem do PIB destinada às despesas com a defesa atingirá 2% este ano e excederá 2% em 2026, afirmou o Ministro das Finanças. As prioridades incluem a ciberdefesa, os sistemas não tripulados, a IA, a simulação, os sensores, a interoperabilidade e as plataformas autónomas. A estratégia visa atrair investimentos, aumentar a capacidade de produção, fortalecer a cooperação entre a OTAN e a UE, integrar a indústria portuguesa em programas europeus e consórcios multinacionais para promover tecnologias de dupla utilização e modernizar as capacidades críticas das Forças Armadas. Os empréstimos da SAFE devem ser liquidados até ao final do ano, com as despesas de 2026 financiadas pelo Orçamento do Estado ou pela SAFE.
Incentivos à indústria de defesa para replicar o “modelo OGMA”
A consolidação da Base Tecnológica e Industrial de Defesa é um objetivo estratégico fundamental, ligando universidades, centros de investigação e empresas tecnológicas. O Governo pretende avançar com reformas legais para promover parcerias público-privadas que mobilizem os conhecimentos especializados nacionais e o investimento estrangeiro, em linha com o “modelo OGMA”. O desempenho será medido através do impacto económico, da criação de emprego e do crescimento das exportações portuguesas no setor da defesa. O Governo procura posicionar o setor da defesa como um motor do crescimento económico.
MEDIDAS PARA A IMIGRAÇÃO
Política migratória reformulada para reduzir a permanência ilegal
O Governo definiu para 2025 uma política migratória baseada no Estado de direito, na gestão responsável dos fluxos e no respeito pela dignidade humana. O objetivo é garantir uma imigração regulamentada que satisfaça as necessidades nacionais, valorizando simultaneamente as contribuições dos migrantes. A aplicação da lei em relação à entrada e residência ilegais será reforçada, garantindo a legalidade, a segurança e a plena proteção dos direitos humanos, com medidas alinhadas com as normas internacionais.
A modernização da AIMA é fundamental para a eficiência administrativa
O Governo definiu a transformação da AIMA como fundamental para proporcionar um sistema de migração eficiente, transparente e fiável. Segundo o Governo, a nova estrutura organizacional irá acelerar a tomada de decisões, reduzir os obstáculos burocráticos e garantir tempos de processamento mais rápidos. Ao melhorar a coordenação operacional e adotar ferramentas digitais, a AIMA fornecerá orientações mais claras, melhor apoio à integração e serviços mais responsivos aos migrantes.
Atração de talentos e integração local
Uma abordagem estratégica para atrair talentos estrangeiros estará alinhada com as prioridades econômicas e os setores-alvo com escassez de mão de obra. A política de migração enfatizará a responsabilidade compartilhada, exigindo que os empregadores garantam condições dignas de acolhimento e integração. A abordagem será descentralizada, envolvendo municípios, sociedade civil e o terceiro setor.
MEDIDAS PARA AS FLORESTAS
Florestas sustentáveis e resilientes
Os recursos para prevenção e intervenção em incêndios florestais, gestão de combustíveis e proteção de assentamentos serão reforçados. O governo também visa reduzir o impacto de pragas, doenças e espécies invasoras, proteger a flora nativa, promover espécies indígenas, aumentar a produção e comercialização nacional e avançar na pesquisa e transferência de conhecimento, garantindo uma floresta adaptada, diversificada e sustentável.
Territórios rurais, inovação e irrigação
O Governo busca valorizar as áreas rurais, estimular o empreendedorismo e a inovação e fortalecer a pesquisa, a capacitação e a transferência de conhecimento nos setores agroflorestal, pesqueiro e marítimo. Os projetos serão adaptados às necessidades locais, com ênfase na igualdade de gênero, colaboração cooperativa, ampliação da irrigação e modernização da infraestrutura, garantindo produtividade, resiliência e coesão territorial.
Gestão integrada e governança territorial
O Governo está comprometido com uma floresta mais resiliente, produtiva e sustentável por meio de uma gestão florestal ativa, profissional e simplificada. O Plano “Florestas 2050: Futuro mais Verde” inclui 19 medidas e 154 ações estratégicas. O Governo promoverá uma ação integrada entre o Estado, as partes interessadas locais e o setor privado, clarificando as responsabilidades e reforçando modelos de governança eficientes. O Governo visa promover um ambiente favorável ao investimento e à inovação, ao mesmo tempo que fomenta o desenvolvimento econômico, a criação de empregos e a coesão territorial.