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PaísesBruxelas / União Europeia
A segurança e defesa concentram já 26% da conversa dos cidadãos europeus sobre a agenda estratégica europeia. A percentagem é bastante superior em países como Letônia (71%), Eslováquia (68%), República Checa (64%) ou Estônia (63%), onde a percepção de ameaça externa é maior. Em outros países, a conversa predominante dos cidadãos versa sobre democracia e valores, especialmente França (46%) e Espanha (44%). Frente a estas e outras prioridades estratégicas europeias, durante o primeiro ano do seu novo mandato, a competitividade concentrou até 47% dos discursos da Comissão Europeia, segundo o relatório VDL 2.1: Voz unificada, audiência fragmentada, recepção fraca elaborado pela LLYC.
Quando se completa um ano do início do mandato da segunda Comissão Europeia liderada por Ursula von der Leyen, o relatório analisa como ela comunicou sua nova agenda estratégica e como esta é recebida pelos meios digitais e pelos cidadãos nos 27 Estados-Membros. Para isso, a LLYC analisou um elevado volume de dados relativos à conversa institucional, mediática e cidadã sobre a agenda estratégica europeia:
- Os 851 discursos que os 27 comissários proferiram desde o início do mandato em dezembro passado,
- Mais de 1.500 publicações na conta oficial do X da Comissão Europeia vinculadas às suas prioridades estratégicas,
- Mais de 2,5 milhões de menções às mesmas por parte de meios digitais,
- E mais de 18 milhões de menções no X em todos os Estados-Membros.
“Queríamos combinar nossas capacidades em análise de dados e todo o nosso expertise em comunicação e assuntos europeus para responder a várias perguntas simples, mas muito relevantes: A Comissão está comunicando sua agenda estratégica? Está gerando conexão ou desconexão com os cidadãos em um momento geopolítico tão crítico como o atual? Os resultados indicam que não está cumprindo seus objetivos”, afirma Luisa García, Sócia e CEO Global de Corporate Affairs da LLYC.
Uma voz única na Comissão, uma audiência fragmentada nos Estados
O novo mandato da Comissão começou com o compromisso de situar a competitividade no centro da ação política para fortalecer a soberania estratégica em um contexto global cada vez mais volátil. A análise da LLYC confirma que a instituição conseguiu articular uma narrativa coesa em torno deste tema:
- Quase metade dos discursos dos Comissários (47%) se concentram na competitividade.
- A competitividade e o papel global da UE somam mais de 40% do total da atividade comunicativa da Comissão no X.
- Conceitos como “inovação” ou “investimento” estão entre os termos mais frequentes das intervenções dos Comissários.
Além dos números, a própria organização da Comissão contribui para essa centralidade temática. Assim, apesar da liderança evidente de Von der Leyen, a competitividade não se associa a um único porta-voz, estando presente de forma habitual na comunicação de diversos Comissários, como Valdis Dombrovskis ou Maroš Šefčovič, o que reforça seu caráter transversal.
Frente a isso, os cidadãos europeus apresentam uma conversa muito mais heterogênea em seus temas, em parte condicionada por percepções de risco diferentes. Além disso, o ecossistema mediático também reflete parcialmente a diversidade temática identificada:
- Os assuntos de segurança representam até 38% da cobertura dos meios digitais sobre a agenda estratégica, chegando a 56%-68% na Lituânia, Letônia, Croácia, Eslováquia ou República Checa.
- Em contrapartida, a competitividade se estabelece como o segundo tema mais relevante, com 21% da cobertura pelos meios digitais europeus.
Valores europeus: um caminho para reforçar a conexão cidadã
O relatório evidencia que a fragmentação da conversa europeia estabelece limites ao notável esforço do Executivo comunitário de situar a competitividade como eixo de sua narrativa, em um ambiente mediático que prioriza o urgente em detrimento do estrutural.
Diante deste desafio, a LLYC conclui que reforçar a narrativa institucional a partir dos valores fundacionais da União Europeia – dignidade humana, liberdade, democracia, igualdade, Estado de Direito e direitos humanos – poderia melhorar a receptividade dos cidadãos à estratégia da Comissão.
Ángel Álvarez Alberdi, Diretor Sênior da LLYC e Chefe do escritório em Bruxelas, reforça esta ideia: “À vista da nossa análise, parece que o desafio não é apenas comunicar mais ou melhor, mas comunicar com propósito, ampliar a narrativa comum a partir dos valores que conferem legitimidade e capacidade de ação conjunta ao projeto europeu”.