Forecast Healthcare 2024: Personalizada, descentralizada e verde

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19 Dez 2023

A saúde está a tornar-se mais personalizada, descentralizada e a encontrar formas de se otimizar. Esta é a conclusão da nova Forecast Healthcare 2024, elaborada pela LLYC, que apresenta os principais desafios do setor para o próximo ano. As longas listas de espera criadas pela pandemia e os problemas orçamentais vieram juntar-se a outros fatores que eram já evidentes, como o envelhecimento da população, o crescimento das desigualdades económicas ou o peso de algumas doenças não transmissíveis. Com os serviços de saúde sob enorme pressão, as Administrações, a indústria médica, os profissionais e os doentes terão de encontrar formas imaginativas de corrigir a situação e alcançar a sustentabilidade. 

Entre as principais temáticas para o próximo ano, o documento destaca a maior sensibilização dos cidadãos para os autocuidados e a melhoria dos hábitos de vida. Salienta também o papel dos cuidadores na melhoria da saúde dos doentes e no aumento da transparência e da inclusão na investigação clínica. O setor fará avançar o enfoque One Health (saúde humana, animal e ambiental) e as regras ESG. Ao longo de 2024, continuará o processo de desestigmatização das doenças mentais, crescerão as soluções para as pessoas com poucas opções de tratamento e a tecnologia continuará a desempenhar um papel fundamental. Os Big Data e a inteligência artificial irão acelerar o desenvolvimento de medicamentos e as vacinas. A inovação e a tecnologia convergirão para melhorar os cuidados de saúde.

“O ano de 2024 anuncia-se com imensos desafios para o setor da saúde, mas também com motivos para otimismo. Existe uma grande preocupação com a sustentabilidade dos serviços de saúde. Como pode ser atenuada? Parece inevitável que todos os agentes, públicos e privados, trabalhem em conjunto para melhorar a situação. Neste momento, a investigação e a tecnologia estão a desempenhar um papel fundamental. O seu impacto está a ser muito importante para fazer progressos em tratamentos ou medicamentos que facilitem a vida do doente”, assegura Gina Rosell, Sócia e Diretora Sénior da Health Europa na LLYC.

Estas são as tendências apontadas pelo relatório Forecast Healthcare 2024:

  • Maior sensibilização para os cuidados de saúde individuais e melhoria dos hábitos.  O inquérito Global Trends 2023 da IPSOS destaca a preocupação mundial contínua com os efeitos da COVID-19 nos sistemas de saúde, com um aumento da procura de serviços e preocupações com o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde. 83% dos inquiridos quer ter mais controlo sobre a sua saúde sem desconfiar das instituições governamentais ou científicas. Esta tendência impulsionou o interesse pelos autocuidados, com uma maior procura de informação sobre tratamentos, políticas de saúde e consumo de produtos como as vitaminas. 40% dos consumidores já o faz pela Internet. 
  • Enfoque nos cuidadores e no seu papel na melhoria da saúde dos doentes. Os cuidadores, sejam familiares ou profissionais, têm um papel fundamental no bem-estar dos doentes, prestando-lhes apoio emocional e assistência física. A sua importância foi analisada e existe uma literatura médica crescente sobre o assunto, salientando a necessidade de apoio devido às consequências negativas para a saúde. O tempo dedicado a cuidar dos outros implica, de forma direta, que os cuidadores sejam privados de espaços pessoais para atividades sociais, de lazer ou de autocuidados, o que é prejudicial para a sua própria saúde física e psicológica. 
  • Aumento da pressão sobre a sustentabilidade dos sistemas de saúde. A gestão da saúde enfrenta os desafios da pandemia, das alterações demográficas e das desigualdades. Apesar dos progressos, a pressão financeira afeta a sustentabilidade dos sistemas de saúde. É fundamental garantir um acesso universal e equitativo. A colaboração com empresas farmacêuticas e tecnológicas pode melhorar a eficiência e facilitar o acesso a dispositivos médicos e medicamentos, contribuindo para o desenvolvimento económico e social.
  • Maior transparência e inclusão na investigação clínica. Em 1977, a FDA recomendou a exclusão das mulheres em idade fértil dos ensaios clínicos, criando uma escassez de dados sobre o modo como os medicamentos as afetavam. Em 1993, os protestos levaram à aprovação da inclusão de mulheres e minorias nos ensaios clínicos. Desde então, os NIH têm assegurado a diversidade nas investigações clínicas através da conceção de testes para analisar os impactos específicos neste âmbito. A diversidade nos ensaios clínicos é fundamental para garantir medicamentos adequados para todas as pessoas. 
  • O enfoque One Health: ambiente, animais e saúde humana. O conceito One Health aborda a saúde de uma forma integral, reconhecendo a interligação entre a saúde humana, animal e ambiental. A OMS estima que 60% das doenças infeciosas tem origem animal, destacando a importância de abordar a zoonose. O enfoque One Health vai para além da transmissão de doenças, incluindo aspetos económicos, ambientais e de segurança alimentar. A colaboração a nível local, regional e global é fundamental, com políticas públicas que abordem não só os problemas atuais, mas que também prevejam e mitiguem os riscos futuros. 
  • O enfoque empresarial com responsabilidade social: os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e ESG. A crescente procura de responsabilidade social está a levar as empresas, incluindo as do setor da saúde, a considerar o seu impacto nas pessoas e no planeta. O aspeto social do ESG destaca a relação empresa-sociedade, abordando questões como as condições laborais, a igualdade de género e a colaboração em projetos sociais. Estes critérios estão alinhados com a Agenda 2030 da ONU. Para os cumprir, são necessárias parcerias público-privadas que estabeleçam políticas para avançar para objetivos sustentáveis.
  • Desestigmatizar as doenças mentais. A desestigmatização das doenças mentais é essencial, uma vez que, de acordo com a OMS, 1 em cada 8 pessoas foi afetada em 2019 e com um aumento significativo durante a pandemia. Fatores como a pobreza, a violência e a desigualdade contribuem para o risco. Num mundo tecnológico, é imperativo abordar a saúde mental a nível institucional e social. A comunicação desempenha um papel fundamental, exigindo estratégias afetivas para evitar a estigmatização nos media e nas redes sociais. Transformar a perceção pública é crucial para obter apoio e políticas de tratamento eficazes.
  • Mais acesso à inovação farmacológica e às tecnologias da saúde. Com orçamentos apertados nos sistemas de saúde, o acesso a inovações farmacológicas continua a ser um desafio. A OMS salienta a importância do acesso equitativo como um requisito para serviços de saúde universais. A FIFARMA constatou que o acesso às inovações na área da oncologia e das doenças raras é baixo, com uma média de 13%, e que o tempo de acesso varia significativamente nos países da América Latina. Por conseguinte, é necessário um enfoque colaborativo que aborde a regulamentação, o valor e o custo da inovação, colocando o doente no centro das decisões para garantir um acesso rápido e benéfico à saúde. 
  • Mais e melhores soluções para doenças devastadoras e com poucas opções de tratamento. A combinação de terapêuticas convencionais, de imunoterapia e de terapêuticas genéticas e celulares inovadoras apresenta resultados promissores no cancro. Destaca-se a terapêutica CAR-T, que consiste na reprogramação de células imunitárias em laboratório para atacar as células cancerígenas. Embora seja dispendiosa e complexa, tem-se revelado eficaz nos cancros hematológicos. A medicina personalizada oferece esperança para doenças consideradas incuráveis, com novos avanços, sobretudo em oncologia, imunologia e infeções. 
  • Os Big Data e a inteligência artificial para acelerar o desenvolvimento de medicamentos e vacinas. A convergência dos Big Data e da Inteligência Artificial está a revolucionar a saúde. O mercado crescerá para quase 70 mil milhões de dólares até 2025. Estas tecnologias aceleram o desenvolvimento de medicamentos, reduzindo os prazos e melhorando a eficiência. Além disso, a IA permite diagnósticos precisos e personalizados, antecipando problemas de saúde. Do ponto de vista económico, simplifica as tarefas administrativas e aumenta a qualidade dos cuidados médicos. Prevê-se que esta tendência atinja o seu pico nos próximos dois anos. 
  • Vacinação: tempo para os idosos e as crianças. A diminuição da vacinação, agravada pela pandemia, afeta tanto crianças como adultos. Cerca de 40 milhões de crianças não receberam a vacina contra o sarampo até 2021. A atenção centra-se agora nos adultos, influenciados pelo movimento anti-vacinas. Uma comunicação eficaz é fundamental para colmatar o défice de imunização e evitar a propagação de doenças evitáveis. 
  • Novas tecnologias para aproximar a saúde do doente. A saúde do futuro é formada com base na interseção da tecnologia e da inovação. Dispositivos médicos avançados, gestão remota de doentes e tecnologias como a realidade virtual e a inteligência artificial estão a transformar os cuidados de saúde. A telemedicina, apoiada pelos Big Data, ultrapassa as barreiras geográficas e chega a zonas remotas. As cirurgias menos invasivas, a formação médica on-line e a convergência de tendências apontam para um futuro dos cuidados de saúde personalizados, descentralizados e otimizados, oferecendo um acesso mais alargado e mais eficiente a serviços médicos de qualidade. 

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