A IA generativa como aliada na preservação e divulgação das línguas indígenas

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21 Jul 2025

A inteligência artificial (IA) generativa representa uma grande oportunidade para reduzir o isolamento digital das comunidades indígenas e dar maior visibilidade aos seus povos e culturas. É uma das principais conclusões do relatório “O desempenho da inteligência artificial no uso de línguas indígenas americanas”, elaborado pela LLYC, a empresa global de Marketing e Corporate Affairs, em colaboração com o BID Lab, o braço de inovação e venture capital do Grupo do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e a Microsoft. A publicação evidencia a situação atual e propõe uma série de recomendações práticas orientadas para fomentar uma inteligência artificial mais inclusiva e culturalmente representativa.

Para aumentar a integração de línguas indígenas no ecossistema digital, o documento propõe 21 estratégias centradas tanto no aumento dos dados disponíveis nestas línguas como no desenvolvimento de tecnologias facilitadoras. Fomentar, em colaboração com as comunidades indicadas, a conversação digital em línguas indígenas, dar visibilidade aos seus influencers, proteger plataformas e arquivos digitais de tradições, e desenvolver tecnologias de tradução e voz são algumas das mais destacadas. Dessa forma, tais estratégias ajudariam a treinar os modelos de IA de forma a melhorar o seu desempenho nestas línguas.

A IA pode ser uma ferramenta poderosa para preservar, partilhar e revitalizar tradições culturais e idiomáticas, assim como para reduzir lacunas decorrentes do analfabetismo ou do monolinguismo em zonas isoladas. No entanto, para que as comunidades indígenas possam beneficiar plenamente das possibilidades de desenvolvimento e emprego que a IA oferece, é fundamental melhorar a eficácia na interação nas suas línguas originárias. Caso contrário, existe o risco de aumentar as lacunas digitais e sociais.

Atualmente, os modelos mais conhecidos de IA generativa mostram um desempenho desigual ao interagir em línguas indígenas. Em apenas 54% dos casos, as perguntas formuladas nestes idiomas recebem respostas aparentemente corretas, que podem ser até quatro vezes mais curtas do que as geradas em espanhol para perguntas equivalentes e com uma qualidade inferior em expressão (2,4 em 10) e compreensão (2,3 em 10). Além disso, o relatório também deteta um elevado viés cultural nos sistemas de inteligência artificial, que tendem a oferecer respostas que se inclinam para referências ocidentais, inclusive quando se formulam perguntas em línguas indígenas.

O relatório destaca a importância da colaboração entre programas governamentais, iniciativas de grandes empresas tecnológicas (Big Tech), ONG e marcas de consumo para promover melhorias no rendimento da IA em línguas indígenas. Além disso, confirma-se uma elevada correlação (91%) entre o volume de conteúdo digital disponível numa língua e a qualidade da IA nesse idioma.

“Para que a inteligência artificial seja verdadeiramente inclusiva a nível global, deve compreender e adaptar-se aos diferentes contextos linguísticos e culturais. Este estudo representa um ponto de partida fundamental para avançar na representação das línguas indígenas nas tecnologias do futuro”, afirma Adolfo Corujo, Partner & Marketing Solutions CEO da LLYC.

Por sua vez, Daniel Korn, Diretor de Políticas e Inovação em IA para a Microsoft Américas, afirma: “Os nossos clientes a nível mundial exigem relevância linguística e cultural nos produtos e serviços baseados em IA que oferecemos. Na Microsoft, o nosso objetivo é colocar as pessoas em primeiro lugar. Comprometemo-nos a abordar, em colaboração com governos, académicos, sociedade civil e organizações multilaterais, como o BID, as lacunas indicadas para alcançar a referida meta”.

“No BID Lab, através do programa fAIr LAC, promovemos o desenvolvimento de soluções de inteligência artificial que respondam aos contextos reais da América Latina e do Caribe. Este estudo permite-nos identificar lacunas e oportunidades para avançar em direção a tecnologias mais acessíveis e relevantes para as nossas comunidades”, conclui César Buenadicha, Diretor a.i do Departamento de Ecosystem Building y Acceleration do BID Lab.

Aceda à publicação completa neste link.