Venezuela: um exemplo esclarecedor
2013, na Venezuela. Uma grande empresa de consumo em massa) redefiniu a delegação das responsabilidades ao alto nível da organização: o segundo responsável na hierarquia assumiu a direção de todas as áreas funcionais. Tal permitiu que o gerente geral se dedicasse exclusivamente ao relacionamento com autoridades, vários sindicatos, comunidades ao redor das instalações industriais, associações empresariais e meios de comunicação. A implementação deste modelo não significou o desaparecimento ou a deslocação da unidade de assuntos públicos e comunicações para segundo plano. Pelo contrário, elevou as funções desta para o mais alto nível da direção. Ao criar uma alta direção executiva com dois responsáveis que interagiam, esta empresa, tomando uma decisão invulgar, demonstrou a capacidade que tem para compreender que a sustentabilidade operativa dependia da qualidade dos intercâmbios que poderiam ser estabelecidos com as comunidades estratégicas.
Quando as empresas são questionadas
Em meados do século XX, o conceito de stakeholder começou a ser utilizado. Na sua maioria, os stakeholders são previsíveis. Por exemplo, todas as indústrias sabem que os dirigentes sindicais, as entidades reguladoras e jornalistas especializados em negócios têm de fazer um acompanhamento do desempenho industrial, no âmbito da atividade profissional que exercem. No entanto, estes observadores também podem ser imprevisíveis. Um caso ilustrativo: em 2012, a ação de um professor reformado de origem peruana obrigou a que uma das indústrias líderes a nível mundial no âmbito da higiene pessoal e doméstica realizasse um investimento de quase 2 milhões de dólares que não estava incluído no orçamento. A pessoa em questão não pertencia a nenhuma organização, não desempenhava nenhuma função pública, nem nunca tinha participado numa atividade semelhante: um reformado atento aos assuntos públicos, um stakeholder invisível. Durante uma visita a um supermercado, este professor reparou que dois rótulos da mesma marca de pasta de dentes continham informação diferente sobre a composição. Antes de entrar em contacto com a empresa e de informar que tinha elaborado um relatório com as discrepâncias encontradas, o professor ligou para os números dos serviços de apoio ao cliente presentes na embalagem. Ninguém atendeu. Quando a empresa se reuniu com este cidadão auditor, encontrou alguém que agia por iniciativa própria. O argumento dele era simples e categórico: as disparidades violavam o direito a estar devidamente informado.
As empresas podem proteger-se?
A nossa premissa é que existem técnicas, ferramentas e especialistas que podem ajudar as empresas a analisar o ambiente que as rodeiam, a definir estratégias adequadas aos novos cenários e a estabelecer rotas, vínculos e intercâmbios não só com os stakeholders, mas que se projetem também para setores mais amplos da sociedade. Os tempos de hoje obrigam as empresas a se prepararem tanto para o previsível, quanto para o imprevisível. Assim, em algumas empresas surge uma inovadora estrutura, a de Advocacy. Esta visa enfrentar ambientes em mudança constante. Mas para além de oferecer soluções no âmbito legal, esta estrutura foi concebida para dar respostas, sob uma visão mais ampla e real, uma visão de um verdadeiro conhecimento da região e das respetivas tendências económicas, sociais, políticas e institucionais. Estas equipas profissionais permitem conhecer e analisar o ambiente operacional das empresas, definir estratégias de ação e comunicação, elaborar um mapa de relações, estabelecer diálogos e construir pontes que abram o caminho para os negócios e que promovam a boa reputação dos respetivos clientes.