Há 12 anos nasceu o laboratório de Genômica do Câncer, que tenho a honra de dirigir, com o objetivo de oferecer ferramentas baseadas em tecnologias de ponta para aprimorar o conhecimento molecular de tumores em pacientes com câncer. De fato, em 2006, uma nova tecnologia surgiu no mercado, chamada para transformar o diagnóstico molecular, sequenciamento de próxima geração (ou NGS). Com essa tecnologia, o sequenciamento do genoma humano (que contém 3 bilhões de bases) passou de 10 anos para hoje poder ser feito em poucos dias. Portanto, os genomas poderiam começar a ser rotineiramente sequenciados.
Todas as funções que governam as funções nas células e ditam seu comportamento no organismo estão codificadas em nosso DNA ou genoma. O câncer é, na verdade, uma doença que usa o genoma para surgir e evoluir. A chave para isso é que qualquer mutação de DNA corrigida é passada para as células-filhas, fazendo com que nasçam com funções alteradas. Múltiplas mutações ocorrem sucessivamente, até que haja tantos elementos desregulados que as células não obedeçam mais a nenhuma das regras de convivência necessárias em um organismo. Nessa época, eles se constituem e continuam sua evolução como tumores malignos. O genoma de todos os tumores tem alterações ou mutações, que lhes dão a vantagem de crescer sem limites e descontrolados. É por isso que quando o NGS apareceu, cientistas e médicos visionários perceberam que isso nos ajudaria, e muito, a entender o câncer.
O Dr. Baselga, então chefe do serviço de Oncologia do Hospital Vall d’Hebron de Barcelona, estava certo de que biomarcadores baseados em genomas tumorais, obtidos por meio de NGS, seriam decisivos para aplicar o modelo de medicina de precisão. Com o meu laboratório, e sempre acompanhado pelo laboratório de Patologia Molecular, nasceu o Programa DIAMAV, um programa avançado de diagnóstico molecular, com a missão de aprofundar os aspectos moleculares da doença de cada paciente que dele participou. Nestes anos, nossa jornada consistiu em desenvolver testes de análise, baseados em NGS, para determinar centenas no início, milhares depois e milhões hoje, de alterações que ocorrem no DNA das células tumorais. E para oferecer a você a melhor opção terapêutica, dentro do arsenal de medicamentos que temos no hospital Vall d’Hebron de Barcelona. De referir que o nosso centro é muito ativo no campo dos ensaios clínicos de Fase I, em que os fármacos são testados pela primeira vez em humanos, o que abre novas oportunidades de tratamento para os doentes. Diante dessa variedade de novos medicamentos, ter um alto nível de informação molecular permite ao oncologista um grau de precisão na hora de decidir o tratamento para seu paciente.
Atualmente, o programa DIAMAV, promovido pela FERO Foundation, é uma das linhas estratégicas do Vall d’Hebron Institute of Oncology (VHIO). Os testes de análise atuais permitem identificar mais de 2,5 milhões de posições no genoma para verificar se há mutações, aprofundando o conhecimento de cada tumor e desenhando novas terapias das quais os pacientes podem se beneficiar. Nos últimos anos, incorporamos a biópsia líquida ao DIAMAV, que sem dúvida merece um capítulo à parte, que permite estudar as alterações tumorais a partir de simples amostras de sangue, sem a necessidade de realizar biópsias invasivas e com risco para o paciente.
Todos os anos, graças à tecnologia do programa DIAMAV, podemos analisar mais de 2.500 amostras de mais de 1.200 pacientes, dos quais cerca de 12% têm acesso a novas opções terapêuticas contra o câncer –principalmente ensaios clínicos de fase 1– que, caso contrário, eles não teriam. Sem dúvida, o desenvolvimento deste tipo de programa, que não vê limites à sua ambição de melhorar o diagnóstico molecular, será uma mais-valia que melhorará não só o presente dos nossos doentes, mas também o futuro de todos.
Dra. Ana Vivancos Jefa del grupo de Genómica del Cáncer en el Vall d’Hebron Instituto de Oncología (VHIO) de Barcelona y directora del Programa de Diagnóstico Molecular Avanzado (DIAMAV) financiado por Fundación FERO.