Twitter es trending topic estos días. La propia red es uno de los temas más comentados dentro de sí misma, y no es para menos ante el punto de inflexión que parece avecinarse sobre ella. La semana pasada se confirmaba la compra de Twitter por parte de Elon Musk y, si estamos ante la red de la discusión, el debate y la polarización por excelencia, el desembarco en la propiedad por parte del hombre más rico del mundo aseguraba la controversia.
Semana passada se confirmava a compra da empresa por Elon Musk e, se estamos diante da rede da discussão, do debate e da polarização por excelência, o desembarque na propriedade do homem mais rico do mundo assegurava controvérsia.
Que um magnata invista em meios ou plataformas de comunicação não deveria surpreender ninguém nesta altura. De William Randolph Hearst a Jeff Bezos, passando por Rupert Murdoch, a história está cheia de exemplos. O que talvez levante mais bolhas nesta ocasião é essa aura de “salvador”, além da de investidor, com a que se apresentou o empresário da África do Sul. O espetáculo foi tal que neste caso é mais simples encontrar um símile na ficção, no milionário Bruce Wayne que saía para resgatar a decadente Gotham. E recordemos que Batman sempre foi sinônimo de polêmica.
Deixando de lado as reações sobre atuadas, tanto dos que dizem que vão a abandonar a rede pela chegada do magnata (serão os mesmos que iam a deixar WhatsApp com a chegada de Zuckerberg?) como as dos lacaios que se apressam a endeusá-lo antes de que tenha feito alguma coisa feito nada, o mais interessante de todo o Twitter affaire que estamos vivendo é, sem dúvida, a reflexão que se abre sobre sua natureza e seu futuro.
Me parece inegável que a rede faz tempo necessitando que lhe deem, digamos de forma plana, “uma sacudida”. Mas uma de verdade. Twitter é uma das plataformas mais influentes e com maior potencial (a preferida por políticos e jornalistas, sem ir mais longe) e, no entanto, sempre foi uma das que apresentou maiores dúvidas a nível de negócio. Basta com ver seus últimos resultados ou comparar sua desastrosa trajetória na bolsa com a das big tech.
Se tivéssemos que posicionar Twitter por sua funcionalidade, seguro de que muitos de nós a definiríamos como “a rede da conversa”, devido a seu formato e a sua imediatez.
No entanto, acredito que estaremos de acordo em que é uma das plataformas sociais na que, por desgraça, encontramos uma maior falta de educação, de empatia e de confiança, três condições indispensáveis para o intercâmbio de ideias.
No último ano a rede de microblogging foi extremadamente ativa no lançamento de novas funcionalidades, como os Super Follows, os Espaços, as Comunidades, os falidos Fleets e os testes com uma versão paga, Twitter Blue, sem que nenhuma delas conseguisse proporcionar uma mudança de rumo substancial. Por vários motivos não consegue gerar um entorno, digamos, “amável”, para o diálogo entre usuários (precisamente o que deveria ser seu ponto forte em comparação com outras redes) e é aí onde encontramos a raiz de seus males. No Twitter se preocuparam mais em oferecer novas coisas para fazer em sua rede do que em cuidar que aquilo para o qual esteve sempre projetada e onde tem seu valor diferencial, a conversa, se pudesse realizar de maneira ótima.
Sobram muitas contas, desde os bots aos perfis anônimos que se profissionalizam como baderneiros sectários de toda índole. No entanto, no Twitter sempre foram frouxos e pouco eficazes na hora de meter a mão neste problema, com certeza pensando que o volume de usuários era seu principal ativo e deixando em um segundo plano a qualidade deles. As medidas seguem passando pela aplicação de uns sistemas de reporte e denúncia que muitas vezes são utilizadas pelos próprios trolls e mais de uma vez provocaram o fechamento arbitrário de contas de pessoas reais enquanto exércitos de perfis não identificados e de espúrios interesses seguem vagando pela corte.
É possível que a melhor via para ter mais usuários no futuro seja ter menos no presente, e essa é uma das linhas de atuação nas que mais insistiu Elon Musk, a de eliminar os bots e verificar a todos os humanos (“ou morrer na tentativa”, tuiteou). Todavia temos poucas certezas sobre o que esperar desta nova etapa, além dessa declaração de intenções, junto com a de criar algoritmos de código aberto ou a mais abstrata, ambiciosa e ao mesmo tempo pretenciosa e que ocupou mais manchetes: “Defender a liberdade de expressão”. O certo é que estes planos não soam mal sobre o papel (ou sobre o tuit, neste caso), mas como se costuma dizer, o diabo está nos detalhes, por isso está por ver como se materializam estas ideias.
É complicado digerir que um empresário multimilionário se apresente como um salvador, e está claro que o ceticismo diante de suas boas intenções é bastante compreensível. Bruce Wayne já sabia disso e por isso se escondeu detrás da máscara de Batmam. Elon Musk vem com a cara descoberta, e terá que suportar esse peso para levar seus planos adiante.
Em O Cavaleiro das Trevas, o melhor filme da prolífica filmografia de Batmam, há uma citação memorável que diz algo parecido com “é o herói que Gotham merece, mas não é o que necessita agora”. Neste caso, com certeza Musk não é o herói que o Twitter merece, mas talvez seja o que necessita neste momento no qual pedia claramente uma mudança de timão.
Veremos se termina sendo reconhecido como tal ou se termina convertido em vilão. Seguiremos atentos ao filme. Talvez o passarinho se torne um morcego.
Artigo publicado na mídia espanhola La Información.