A polarização sobre a divesidade nos Estados Unidos

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14 nov 2024

As políticas de diversidade têm uma longa história nos Estados Unidos. Datam, pelo menos, dos anos 70 do século passado, quando o termo “ação afirmativa” se tornou comum na defesa dos direitos trabalhistas e educacionais nas minorias étnicas. Embora tenham ganhado força, essas políticas sempre foram controversas e durante décadas foram motivo de várias disputas políticas entre seus apoiadores e detratores. A partir da presidência de Barack Obama, no entanto, essas políticas, que não pararam de se transformar e nos últimos tempos começaram a ser descritas pelo acrônimo DEI (diversidade, equidade e inclusão), experimentaram um grande boom e várias organizações as adotaram como próprias e as incluíram entre seus valores e na sua comunicação.

A polarização em torno desse tema, contudo, parece mais evidente graças ao efeito que o debate digital teve na esfera pública nesse mesmo período de tempo. E nota-se que ele já impactou as decisões de muitas organizações. Em 2024, por exemplo, o New York Times dedicou uma atenção notável ao tema DEI. A principal narrativa da cobertura do jornal tem sido a de que ele é cada vez mais questionado. Diante de uma rejeição que parece aumentar de volume e de vários casos de judicialização, muitos líderes corporativos, dizia o jornal em janeiro, estão adotando versões mais suaves dos planos ou dando menos ênfase a eles. Em alguns casos, dizia em suas páginas de negócios, muitas empresas continuam com as práticas, mas simplesmente deixaram de chamá-las de DEI e deram um nome mais neutro, como, simplesmente, “cultura”. Este ano, Harvard e o MIT, duas das principais universidades do país, deixaram de exigir que os novos professores afirmassem explicitamente o seu compromisso com a diversidade. “Será este o fim das declarações obrigatórias de DEI?”, questionava o jornal.

As políticas de DEI experimentaram um grande boom e várias organizações as adotaram como próprias e as incluíram entre seus valores e na sua comunicação

Com certeza muitas empresas e instituições educacionais continuam trabalhando sob o marco DEI, chamando-o pelo seu nome e mostrando de maneira orgulhosa o seu compromisso. Mas a agitação causada por estas notícias, publicadas em um jornal que na última década demonstrou o seu compromisso com a diversidade, chamou a atenção. A sobrevivência generalizada dessa aposta feita por tantas organizações e pessoas está correndo perigo? A controvérsia em torno disso é realmente tão forte?

O QUE O DEBATE DIGITAL DIZ

A escuta e a análise do debate digital é um dos processos que melhor capta as dinâmicas da opinião pública e a maneira como as ideias circulam na sociedade. A LLYC desenvolveu uma tecnologia própria, baseada em big data e inteligência artificial, que permite processar o debate sobre um tema específico, conhecer as suas tendências e avaliar o seu volume. E utilizou essa ferramenta para tentar responder a essas perguntas.

Em 2023, último ano completo para o qual existem resultados disponíveis, 20 milhões de mensagens relacionadas ao quadro DEI foram veiculadas nos Estados Unidos. Para termos uma ideia, isto é seis vezes mais do que o publicado a respeito de um dos temas mais polêmicos e polarizados dos Estados Unidos: o controle de armas. E ocorreu em um ano em que o discurso de ódio cresceu 35%. Em territórios de debate tradicionalmente progressistas, como a igualdade, a diversidade e o meio ambiente. No caso deste último território, o discurso de ódio cresceu mais de 65% em um ano.

Se aprofundarmos a escuta do debate digital, os resultados evidenciam o grau de polarização que as políticas de DEI geraram nos últimos anos. Vemos que 37% da conversa sobre a diversidade nos Estados Unidos está muito polarizada. Por polos, o conservador (21%) acusa as políticas de DEI de perverter a educação e acusa drags e trans de difundir, supostamente, conteúdo pornográfico em centros educacionais. Já o polo progressista (16%) acusa um setor homofóbico de agredir indivíduos por sua orientação sexual e de atentar fisicamente contra eles.

O IMPACTO NA EMPRESA

Este polarizado, e muitas vezes agressivo, debate digital sobre o marco DEI explica, pelo menos em parte, as decisões das empresas e outras organizações que precisam navegar em um momento particularmente difícil e tentar cumprir o seu propósito e preservar a sua reputação. Já começam a surgir casos de estudo importantes sobre a maneira como grandes empresas como o Walmart ou a Disney souberam fazer transições graduais para se adaptar ao ambiente, como vai explicar um dos próximos relatórios da LLYC. Mas também ocorreram fracassos monumentais.

A polarização estrutura o nosso espaço público. As organizações devem estar conscientes dos riscos associados a isso, principalmente no caso dos princípios de DEI

A polarização nesta questão, de todas as formas, chegou para ficar. Como o fará em muitas outras que impactam a atividade de todas as empresas. Como dizia The Hidden Drug, um trabalho da LLYC em que foram analisados os debates digitais de 12 países sobre temas controversos, a polarização “passou a estruturar todo o nosso espaço público”. As organizações, portanto, devem estar conscientes dos riscos associados a isso. Principalmente no caso dos princípios de DEI, que muitas incorporaram como um traço de identidade e uma questão de justiça básica.

Mike Houston
Mike Houston
CEO da LLYC nos EUA

Lidera as operações da empresa e as estratégias integradas de relações com investidores, relações públicas e marketing. Com quase 20 anos de experiência, prestou assessoria em áreas como fusões e aquisições, sustentabilidade e compromisso de acionistas. Anteriormente, foi vice-presidente de Comercialização na Amedica Corporation e liderou as relações com investidores na Ancestry. Mike é membro da YPO e do NIRI, e foi reconhecido como um dos melhores profissionais de relações com investidores com menos de 40 anos. [EUA]

Luisa García
Luisa García
Sócia e Chief Operating Officer Global da LLYC

Considerada uma das mulheres mais influentes da Espanha, segundo listas da Forbes e da Yo Dona. Foi reconhecida como “Mulher do Ano em Comunicação e Serviços Corporativos” pelo Stevie Awards for Women in Business e, por dois anos consecutivos, foi uma das 50 mulheres de negócios mais influentes da América Latina. Também faz parte do Instituto de Consejeros-Administradores (ICA), da Young Presidents Organization (YPO) e da Asociación Española de Ejecutivas y Consejeras (Eje&Con). Tem mais de 20 anos de experiência em Consultoria de Comunicação e liderou projetos de alto impacto para multinacionais como Coca-Cola, GSK, ABInbev e Telefónica. [Espanha]