Em um mundo ideal, o acesso à saúde é um direito e, em muitos casos, se materializa no acesso à assistência médica de qualidade que protege a vida das pessoas. Isso inclui a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e o apoio médico necessário para garantir o bem-estar da população.
Atualmente, a gestão da saúde converge na busca de construir modelos sustentáveis que visem otimizar os recursos numa lógica de custo-benefício, mas que também alcancem resultados que protejam a vida de muitas pessoas e gerem maior cobertura.
Ouvimos falar repetidamente sobre a importância de promover hábitos saudáveis. Afinal, é melhor prevenir as doenças do que tratá-las mais tarde. Isto não se aplica apenas aos pacientes, mas também aos sistemas de saúde. Imagine quantos recursos financeiros e humanos podem ser economizados se os programas de saúde concentrarem seus esforços na educação sanitária e na prevenção de doenças antes que os pacientes necessitem de cuidados hospitalares e terapias avançadas?
Dr. Julio Frenk, atual presidente da Universidade de Miami, e Octavio Gómez Dantes, abordaram o assunto em um estudo publicado em 2016 na revista do Instituto Nacional de Saúde Pública do México. Eles se referiram à necessidade de encontrar um equilíbrio entre a promoção da saúde e o tratamento de doenças, enfatizando como grandes sistemas de saúde implementam programas e políticas para manter sua população saudável e, em caso de doença ou lesão, facilitar o acesso a serviços de saúde de qualidade. Entretanto, na maioria dos sistemas, o tratamento de doenças tem sido priorizado em relação à construção de ambientes saudáveis e à promoção de comportamentos saudáveis.
O artigo do Dr. Julio Frenk e sua equipe fornecem uma análise histórica da mudança da ênfase na higiene pessoal e saúde pública para uma ênfase na doença e cuidados com a saúde. O artigo também discute como “A transição epidemiológica atual aumentou a preocupação com o domínio das abordagens curativas das condições de saúde e suas consequências financeiras”.
É alarmante observar os números porque, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, as doenças não transmissíveis são responsáveis por pelo menos 60% das mortes em todo o mundo e a maioria delas está concentrada nos países em desenvolvimento. O tratamento destas doenças é consideravelmente mais caro do que o tratamento de outras doenças mais comuns, como as infecções comuns. Segundo o último relatório da Federação Internacional de Diabetes, até 2021, estima-se que haverá 537 milhões de casos de Diabetes Mellitus em todo o mundo e os custos diretos de saúde para o diabetes já estão se aproximando de um US$ 1 trilhão. Se os cuidados curativos continuarem a ser priorizados na luta contra essas doenças, os sistemas de saúde se tornarão financeiramente insustentáveis.
Portanto, é necessário um equilíbrio entre a assistência médica e o tratamento de doenças. Esta análise mostra que o principal desafio dos sistemas de saúde neste século é evitar o reducionismo divisionista e abraçar a riqueza de diferentes perspectivas por meio de ações integrativas, e é aqui que as alianças público-privadas assumem especial importância.
A visão da OMS reconhece a importância da inovação e da colaboração entre os setores e contempla novos modelos de negócios na prestação de serviços. Isso representa uma grande oportunidade para governos e empresas privadas, mas acima de tudo um grande benefício para a população, que poderá sentir os efeitos da colaboração público-privada, melhorando significativamente seus cuidados com a saúde.
Um grande exemplo dessa colaboração tem sido o interesse demonstrado por governos e empresas na luta contra a hepatite C. Segundo a OMS, 71 milhões de pessoas no mundo vivem com esta doença e a grande maioria não tem consciência de que a tem. Portanto, é vital implementar campanhas de diagnóstico que incentivem os pacientes a serem testados e receberem o tratamento adequado.
Os avanços no tratamento tornaram possível a cura desta doença em até 98% dos casos com medicamentos que são administrados em poucas semanas, mas ainda são necessários esforços para aumentar seu diagnóstico. As campanhas desenvolvidas em alguns países entre governos, comunidade médica e empresas farmacêuticas têm sido bem-sucedidas. Graças a estas alianças, menos pacientes necessitam de cuidados médicos especializados nos sistemas de saúde, reduzindo a carga de cuidados e, possivelmente, podendo erradicar essa doença no futuro.
É hora de uma nova narrativa que destaque a inovação e o valor da colaboração para enfrentar os desafios da saúde. É hora de uma abordagem muito mais transparente para a solução de problemas, envolvendo todos os membros do setor, a comunidade médica, associações, pacientes, cuidadores, governos e empresas. É hora de rever e desenvolver um sistema de saúde que possa lidar com doenças crônicas, envelhecimento e uma alta demanda por despesas farmacêuticas. Também é hora de rever como as alianças público-privadas podem ser usadas para enfrentar desafios; e – acima de tudo – passar de um sistema curativo para um sistema preventivo. Atualmente, este ambiente está enfrentando a pandemia da covid-19 que tem afetado significativamente os gastos com saúde em todo o mundo e representa um grande desafio para o setor de saúde. Mas, esta pandemia representa um grande exemplo de colaboração em todos os níveis, como mencionado acima, o que permitiu o rápido acesso às vacinas covid-19 e reduziu a gravidade e a mortalidade da doença.
Dr. Adolfo Hernández Médico, pediatra y epidemiólogo
Javier Marín Director Senior LLYC de Healthcare Américas