Na sexta-feira, 28 de junho, foi assinado o Acordo de Associação Estratégica entre o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia (UE), durante o fim da Cúpula de Líderes do G20, realizada na cidade de Osaka, Japão. Trata-se de um dos maiores acordos comerciais firmados entre blocos, em um momento em que as práticas protecionistas estão crescendo.
A parceria estratégica entre o mercosul e a UE implica na integração de um mercado de 773 milhões de habitantes, o que representa quase um quarto do PIB mundial e mais de 100 milhões de dólares no comércio bilateral de bens e serviços. O documento firmado entre os dois blocos comerciais prevê que mais de 90% das exportações de cada uma das partes poderia obter benefícios tarifários no prazo máximo de até dez anos.
Neste relatório especial da IDEAS LLYC, apresentamos alguns dados fundamentais para compreender a relevância do acordo alcançado e introduzir a perspectiva local do significado desse tratado para a Argentina e o Brasil – os dois principais atores do Mercosul – e para a União Europeia.
O tratado a partir da perspectiva Argentina
O impacto da implementação deste acordo será considerável para a Argentina. Até o 28 de junho, o país tinha o Mercosul, e particularmente o Brasil, como seus principais parceiros comerciais, acumulando, em geral, pactos comerciais com apenas 9% do PIB mundial. A partir desses acontecimentos, este percentual passa a ser de 30%, o que implicará um enorme salto na inserção comercial do país.
Da mesma forma, será imperativo dar um salto de qualidade na competitividade do país. Um exemplo seria a redução dos custos logísticos, melhorando a infraestrutura portuária, rodoviária, ferroviária e de telecomunicações, a fim de modernizar também os marcos regulatórios.
- 63% das exportações argentinas para a UE são produtos agrícolas.
- 92% das empresas que exportam manufaturas na Argentina são micro, pequenas ou médias empresas.
- A Argentina participa de apenas 2% dos investimentos estrangeiros diretos da UE.
- A União Europeia é um parceiro estratégico para a Argentina, tanto do ponto de vista histórico quanto cultural, geopolítico e comercial. Atualmente, é o segundo destino de exportações, representando um montante de mais de US$ 9 bilhões em 2018.
- Hoje, o comércio com a UE representa 15% do comércio exterior anual da Argentina.
- Os países da UE que mais vendem à Argentina são: Alemanha (responsável por 30,8% das importações da UE), Itália, Espanha, França e Reino Unido.
O tratado a partir da perspectiva Brasileira
Com o novo acordo comercial pactuado pela UE e o Mercosul, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ganhará um reforço de US$ 87,5 bilhões em 15 anos, podendo chegar a US$ 125 bilhões, segundo estimativas do Ministério da Economia. Em dez anos, o Brasil poderia gerar 778,4 mil empregos e aumentar em 23,6% as exportações brasileiras para o bloco europeu, o que representará um acréscimo de US$ 9,9 bilhões nas vendas brasileiras ao bloco europeu.
Embora a indústria considere o acordo positivo, o setor agrícola tende a ser o maior beneficiado de imediato.
- 90% das exportações do bloco para a UE não pagarão tarifas, em um prazo de até dez anos. Hoje, só 24% do que o Brasil vende aos europeus tem essa prerrogativa.
- Fim de tarifas sobre produtos agrícolas assim que o acordo entrar em vigor.
- Haverá eliminação de tarifas para exportação em 100% dos produtos industriais brasileiros.
- Garantia de barreiras ao uso da designação de cachaça para aguardentes produzidas fora do Brasil, assim como dos nomes de certos queijos.
- Incremento de US$ 87,5 bilhões em 15 anos para o PIB.
- Alta de 23,6% das exportações brasileiras para o bloco europeu em dez anos, com potencial para criar 778,4 mil empregos.
- Maior competitividade dos exportadores nas vendas para países da União Europeia.
O tratado a partir da perspectiva Europeia
O principal eixo que orienta a UE na construção destes tratados é a geração de emprego a partir da promoção do comércio. Para entender o alcance da matéria, a Comissão Europeia explica que as exportações europeias para o Brasil mantêm 855 mil postos de trabalho na União e outros 436 mil no Brasil. Além disso, a cada ano, as empresas europeias economizarão € 4 bilhões em tarifas alfandegárias para entrar nos mercados do Mercosul.
Diante da boa repercussão após a assinatura do tratado, o principal desafio é que todos os Estados-Membros o ratifiquem. O complexo processo de tomada de decisões na União Europeia pode levar até dois anos. França e a Irlanda já mostraram dúvidas sobre sua ratificação até que estejam convencidas de que isso não afetará negativamente agricultura dos dois países. Espanha e Alemanha, os principais exportadores de automóveis (junto com o Reino Unido), têm sido os principais motores das negociações, já que esperam ser beneficiados com a abertura desses mercados, tradicionalmente fechados a essas exportações.
Ao explicar o acordo, a Comissão Europeia quis destacar alguns aspectos específicos:
- Redução de tarifas em produtos europeus que tradicionalmente tinham problemas de acesso ao Mercosul. Os principais são automóveis e componentes, maquinários, produtos químicos e farmacêuticos, além de têxteis e calçados.
- Maiores facilidades nos procedimentos aduaneiros. Os dois membros devem simplificar os procedimentos aduaneiros e estudam os regulamentos técnicos e de padronização para evitar que as divergências na regulamentação impeçam a entrada de produtos.
- Exportação de serviços. O setor de serviços é um dos principais capítulos da exportação da UE. Agora, as empresas europeias terão menos barreiras no acesso a serviços como o de telecomunicações, finanças, negócios e transporte.
- Acesso a contratos públicos, dos quais as empresas europeias estavam excluídas. A partir do acordo, estas poderão se apresentar em igualdade de condições às empresas do Mercosul.
- Garantia do padrão europeu de segurança alimentar, que em nenhum caso será flexibilizado para promover a entrada de produtos do Mercosul, um dos pontos de maior controvérsia criado ao longo das negociações.
- Sustentabilidade ambiental e laboral. Do lado europeu, a ideia é destacar que o comércio entre as duas partes deve manter os compromissos com o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas e os direitos dos trabalhadores.
- Como é habitual nos acordos comerciais da UE, as indústrias culturais e criativas estão de fora e contam com a proteção reforçada das legislações nacionais.
- Vantagens para as PMEs, que deverão contar com uma plataforma específica, que facilitará o conhecimento dos requisitos para entrar nesses mercados.
- Redução das tarifas para produtos agrícolas, com destaque para reduções tarifárias de produtos lácteos e confeitaria, além de destilados e vinhos. Ao mesmo tempo em que se garante a proteção das 357 denominações de origem europeias.
Participaram da elaboração deste relatório Vivaldo De Sousa, Gerente de Relações Públicas da LLYC no Brasil, e Facundo González Sembla, Consultor de Relações Públicas da LLYC na Argentina.
Autores
Mariano Vila
José Luis Ayllón
Cristóbal Herrera